sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Construção



Construção
(Composição: Chico Buarque)

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego


Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público


Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado


Chico Buarque de Hollanda, escritor, músico, poeta, compositor gravou "Construção" no ano de 1971, durante o regime militar.
A música "Construção" tem uma arquitetura a parte:
Reparem que a todos os versos possuem 14 sílabas e sua última palavra é sempre uma proparoxítona (última, único, pródigo, bêbado, tráfego, sábado...)
Outra coisa interessante é que o primeiro verso de todas as estrofes começam com amou e o último versos de todas as estrofes começam com morreu. Aliás as duas primeiras estrofes possuem 17 versos, repetindo se as palavras de cada verso da primeira estrofe na mesma ordem na segunda estrofe (mudando somente a última palavra em cada verso... a palavra proparoxítona)
Por isso costumo dizer que Chico é o melhor letrista da Música Popular Brasileira

Um comentário:

Francisco Castro disse...

Oi, gostei muito do seu blog.

Parabéns!

Um abraço